segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

António Vieira e a Inquisição

A 6 de Fevereiro de 1608 nasceu em Lisboa António Vieira, o maior orador português. Completaram-se há dias 400 anos sobre o seu nascimento. Apesar de padre jesuíta foi perseguido pela Inquisição (mais um!).
Em 1662, após um golpe palaciano que entrega o governo a D. Afonso VI, António Vieira foi desterrado para o Porto. Ficou assim nas mãos da Inquisição que já pôde pronunciá-lo. Do Porto enviam-no para o Colégio da Companhia em Coimbra, negando-lhe a possibilidade de regresso ao Brasil que ele desejava. A 1 de Outubro de 1663 o Santo Ofício manda-o recolher aos seus cárceres de custódia. Novas denúncias tinham dado entrada na Inquisição.
Adoece gravemente. Havia uma peste em Coimbra. Crê-se que ficou tuberculoso. Cospe sangue vermelho, fazem-lhe sucessivas sangrias. No cárcere escreve a História do Futuro e consegue fazer humor, em carta a D. Rodrigo de Meneses: "eu passo como permite o rigor do tempo, escarrando vermelho, que não é boa tinta para quem está com a pena na mão". Vai sendo implacavelmente interrogado pelo tribunal.
A Inquisição levanta várias acusações a Vieira: é culpado da defesa calorosa dos cristãos novos, dos contactos que manteve na Holanda com judeus e calvinistas, de propugnar estranhas e heréticas teorias sobre um tal V Império. Vieira defende-se, embora admitindo algumas imputações, a que não dá, porém, qualquer importância quanto a atentado contra a fé católica.
A 23 de Dezembro de 1667, o tribunal do Santo Ofício dita a sentença condenatória do padre António Vieira: "é privado para sempre de voz activa e passiva e do poder de pregar, e fica recluso na Casa que o Santo Ofício lhe ordenar, e de onde, sem ordem sua, não sairá". Não o autorizam a ir para o estrangeiro para que não possa atacar a Inquisição. Em 1660 frei Nuno Vieira já antecipara esta sentença na frase que proferira: "é preciso mandá-lo recolher e sepultá-lo para sempre".
Permitem-lhe apenas que se instale no Noviciado da Ordem em Lisboa.
A 12 de Junho de 1668 Vieira é libertado. Está, todavia, proibido de nos seus sermões tratar de assuntos relacionados com cristãos novos, profecias, V Império, Inquisição. Dez dias depois prega na Capela Real um sermão comemorativo do aniversário de Maria Francisca de Sabóia.

Já não é tão bem recebido na Corte. D. Pedro pende mais para os dominicanos. Já não precisa de António Vieira.

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