quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Galileo Galilei

Estava previsto o Papa Bento XVI pronunciar hoje um discurso na principal universidade pública de Roma “La Sapienza” mas, por motivos óbvios, foi anulado. Cerca de uma centena de estudantes ocuparam a reitoria de “La Sapienza”, para exigir garantias de que poderiam manifestar-se durante a visita do Papa.
Por seu lado, 67 dos 5.000 professores enviaram à imprensa uma carta em que se referem a um facto ocorrido em 15 de Março de 1990: num discurso na cidade de Parma, o então cardeal Joseph Ratzinger citou Feyerabent dizendo: “Na época de Galileu a Igreja permaneceu muito mais fiel à razão que o próprio Galileu. O julgamento de Galileu foi racional e justo”. São palavras que enquanto cientistas fiéis à razão nos ofendem e nos humilham, declararam os professores. Para compreender melhor a justeza deste julgamento apresenta-se a seguir sentença. Em Outubro de 1992, o Papa João Paulo II pediu desculpa pela sentença da Inquisição, admitindo os erros cometidos pelos teólogos da igreja e declarou o caso de Galileu encerrado.


Galileu (Galileo Galilei), físico e astrónomo italiano (Pisa 1564 - Arcetri 1642) foi condenado pela Inquisição a abjurar da sua crença de que a terra se movia à volta do Sol. O seu julgamento durou seis meses e a sentença é de 22 de junho de 1633. "Depois da tortura, Galileu, com vestes de penitente é obrigado a recitar publicamente e a assinar a abjuração, no Convento de Santa Maria sobre Minerva."
Sentença do Juiz Guinetti: "Decretamos que o livro intitulado Diálogo, de Galileu Galilei, seja publicamente interditado; e quanto a vós, vos sentenciamos ao encarceramento, ficando este a cargo do Santo Ofício, por um período a ser determinado; e como penitência deveis repetir sete salmos por semana..."
Galileu leu a abjuração: "Eu, Galileu Galilei, filho do falecido Vicente Galilei, de Florença, com 70 anos de idade, tendo sido trazido pessoalmente ao julgamento e ajoelhando-me diante de vós, eminentíssimos e reverendíssimos Cardeais Inquisitores-Gerais da Comunidade Cristã Universal contra a depravação herética, tendo frente a meus olhos os Santos Evangelhos, que toco com minhas próprias mãos; juro que sempre acreditei e, com o auxílio de Deus, acreditarei de futuro, em cada artigo que a sagrada Igreja Católica de Roma sustenta, ensina e prega. Mas porque este Sagrado Ofício ordenou-me que abandonasse completamente a falsa opinião, a qual sustenta que o Sol é o centro do mundo e imóvel, e proíbe abraçar, defender ou ensinar de qualquer modo a dita falsa doutrina [...] Eu desejo remover da mente de Vossas Eminências e da de cada cristão católico esta suspeita corretamente concebida contra mim; portanto, com sinceridade de coração e verdadeira fé, abjuro, maldigo e detesto os ditos erros e heresias, e em geral todos os outros erros e seitas contrários à dita Santa Igreja; e eu juro que nunca mais no futuro direi, ou afirmarei nada, verbalmente ou por escrito, que possa levantar semelhante suspeita contra mim; mas se eu vier a conhecer qualquer herege ou qualquer suspeito de heresia, eu o denunciarei a este Santo Ofício ou ao Inquisidor Ordinário do lugar onde eu estiver. Juro, além disso, e prometo que cumprirei e observarei todas as penitências que me foram ou sejam impostas por este Santo Ofício. Mas se por acaso eu vier a violar qualquer uma de minhas ditas promessas, juramentos e protestos (o que Deus não permita), sujeitar-me-ei a todas as penas e punições que forem decretadas e promulgadas pelos sagrados cânones e outras constituições gerais e particulares contra delinquentes assim descritos. Portanto, com a ajuda de Deus e de seus Santos Evangelhos, que eu toco com minhas mãos, eu, abaixo assinado, Galileu Galilei, abjurei, jurei, prometi e me obriguei moralmente ao que está acima citado; e, em fé de que, com minha própria mão, assinei este manuscrito de minha abjuração, o qual eu recitei palavra por palavra".
(Galileu - Vida e Pensamento, Ed. Martin Claret, 1998)


1 comentário:

Milhafre Real disse...

Biografia do filósofo Paul Feyerabent citado na mensagem:
Nasceu em 1924 em Viena e faleceu em 1994 em Zurique.
Feyerabend conta que, sem cair no carisma de Adolf Hitler, apreciava o seu estilo oratório. A Áustria acabou por ser reunificada com a Alemanha em 1938.
Graduou-se no nível médio em Abril de 1942 e passou a servir nas unidades militares alemãs. Após um treino inicial em Pirmasens na Alemanha, foi designado para uma unidade em Quelerne en Bas na França. Após um curto período de licença, juntou-se às forças armadas como voluntário para a escola de oficiais. Em Dezembro de 1943, serviu como oficial na parte norte da frente oriental. Depois que as forças armadas alemãs iniciaram sua retirada frente ao avanço do exécito vermelho, Feyerabend foi atingido por três disparos enquanto dirigia as tropas. Uma das balas acertou na coluna. Como consequência deste evento precisou utilizar uma bengala até ao fim da vida. Passou o resto da guerra recuperando dos ferimentos.
Em 1944 foi condecorado com a Cruz de Ferro e subiu a tenente.
Quando a guerra acabou, Feyerabend trabalhou temporariamente em Apolda onde escreveu algumas peças de teatro. Estudou na Academia de Weimar e retornou a Viena para estudar História e Sociologia. Insatisfeito, entretanto, em breve passou a estudar Física onde conheceu Felix Ehrenhaft, um físico cujas experiências influenciaram a sua visão sobre a natureza da ciência. Feyerabend mudou o objectivo de seus estudos para Filosofia e submeteu a sua tese final em “sentenças de observação”.
Em 1955, Feyerabend recebeu sua primeira designação académica para a Universidade de Bristol, Inglaterra, onde se ocupou do ensino de Filosofia da Ciência. Mais tarde trabalhou como professor em Berkeley, Auckland, Sussex, Yale, Londres e Berlim.
Mudou-se para Berkeley na Califórnia em 1958 e tornou-se cidadão norte-americano. Ministrou aulas como professor convidado em Londres, Berlim e Yale. Ensinou na Universidade de Auckland, Nova Zelândia em 1972 e 1974, sempre retornando à Califórnia. Feyerabend passa a alternar as funções entre a ETH em Zurique e Berkeley durante os anos 1980, mas deixa Berkeley em 1989, indo inicialmente para Itália e finalmente para Zurique. Após a sua reforma em 1991, Feyerabend continuou a publicar vários artigos e passou a trabalhar na sua autobiografia.