quinta-feira, 6 de março de 2008

Travão à inculturação na Cúria Romana

Há mais de três décadas que no Japão se usa a versão da missa em japonês, mas o texto provisório ainda não obteve a sua aprovação definitiva. Em recente visita “ad limine”, a prespectiva pastoral do episcopado local tropeçou com a intransigência da Cúria em matéria de tradução. Não são questões essenciais, mas as minúcias descritas a seguir:
-Em japonês faz-se uma reverência no início da missa. Beijar o altar seria má educação. Não se põe a boca na toalha da mesa de comer. Além disso como símbolo não significa nada. É melhor juntar as mãos respeitosamente. Mas a Cúria insiste no beijo segundo o prescrito.
-À saudação: “O Senhor está convosco”, responde-se no Japão: “E com o celebrante”. Dizer “e com o teu espírito” seria tão estranho como “e com o teu fantasma”. Melhor seria dizer “contigo” ou “com a tua pessoa”. Mas a Cúria insiste em manter a tradução literal.
-Em japonês diz-se: “confesso os meus pecados”. Pedir perdão é tão sério que basta dizê-lo uma vez. Mas a Cúria insiste em triplicar “por minha culpa” e acentuar “minha máxima culpa”.
-“Creio na ressurreição do corpo” refere-se em japonês à pessoa inteira. Mas a Cúria insiste em dizer “ressurreição da carne”, frase que provoca em japonês uma imagem muito grosseira.
Compreender-se-á a perplexidade da igreja japonesa perante este contencioso. A leitura desta notícia noutras igrejas também causará preocupação, sem dúvida, pelo que tem de sintoma como ponta do “iceberg” da marcha atrás em relação ao Concílio Vaticano II por parte das instâncias curiais. Confiamos que a prudência papal trave , por sua vez, as instâncias mais papistas que o papa.

Juan Masiá

Jesuita, Professor de Ética na Universidade de Sofia (Tóquio) desde 1970.

Sem comentários: